26/11/08

PERDIDOS E ACHADOS

Por muito estranho que possa parecer tive, em tempos, uma arca recheada com um enxoval.
Na realidade a arca foi trazida pelo meu pai de Macau e foi acumulando, durante anos, trapos e mais trapos. Mas era assim mesmo que se referiam a ela lá em casa ("a arca do enxoval da miúda"). Desde lençóis bordados a naprons de croché (muitos e de todas as cores), passando por jogos de banho e paninhos para a loiça. Ideal para a esposa e dona de casa que não fui. Quando saí de casa cheguei a levar alguns destes objectos a cheirar a naftalina e a sabonetinhos que estavam guardados com o vestido de noiva da minha mãe. Os restantes continuam, condignamente, o seu inevitável processo de apodrecimento.
A arca na imagem não é a do meu enxoval. A arca que ocupa agora o meu escritório pode guardar, muito bem guardados, segredos de vidas alheias. O vazio gritante do seu interior cala vozes que me ponho a ouvir. Imagino vestidos de seda escarlate, molduras em miniatura com fotografias de amantes platónicos, tranças de cabelo negro, cartas de amor (afinal quem as não tem?)... Imagino também que me deito nela e me deixo levar por um suave dilúvio.
Esta arca será a do meu tesouro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Convida a malta a ir conhecer o teu escritório! :)
Beijos

Anónimo disse...

que se lixe o enxoval. uma arca para encher com aventuras, digo eu.